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20 de Abril de 2024

Bancada evangélica quer cassar direito de transexuais e travestis a nome social

Deputados apresentaram projetos para acabar com uma resolução do Conselho Nacional de Combate a Discriminação, que orienta escolas no tratamento adequado a pessoas transgênero

há 9 anos

Bancada evanglica quer cassar direito de transexuais e travestis a nome social

© GELEDES. ORG/REPRODUÇÃO

São Paulo – Deputados federais da chamada bancada evangélica apresentaram dois Projetos de Decretos Legislativos (PDC, por ter origem na Câmara dos Deputados), no fim de março, para cassar a resolução nº 12 do Conselho Nacional de Combate a Discriminação dos Direitos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais, que orienta escolas e universidades a reconhecer e adotar o chamado nome social de travestis e transsexuais, além de garantir que a pessoa transgênero – cujo sexo não corresponde a como ela se entende, se apresenta e se comporta – escolha qual banheiro ou vestiário (masculino ou feminino) vai utilizar.

Segundo o documento, em vigor desde 12 de março, escolas e universidades devem utilizar o nome social de transsexuais e travestis – nome escolhido pela pessoa, em acordo com a identidade de gênero dela –, em crachás, listas de chamada e formulários, mantendo em cadastro o nome do registro civil da pessoa. A solicitação também pode ser feita por adolescentes, sem a necessidade de autorização dos pais. A norma objetiva combater a discriminação e garantir o acesso e a permanências das pessoas trans nesses locais.

Mas, para os deputados, a norma é ilegal, pois a definição nome social não está prevista “no Código Civil ou na Lei dos Registros Públicos”, justificou o deputado federal Eros Biondini (PTB-MG), autor do PDC 30, de 2015. Ele também defende que a norma imponha uma obrigação à comunidade “determinando como certa pessoa deverá ser chamada”.

A ativista trans Daniela Andrade explicou que não é o Estado que vai dizer qual o nome que deve ser usado, mas sim a pessoa que reivindicar a alteração. “A identidade de gênero é de autorreconhecimento soberano. Ninguém tem o direito de dizer que eu não sou mulher. Só quem pode entender isso sou eu mesma. A Constituição define que o Estado brasileiro vai prezar pela dignidade da pessoa humana. Será que é possível tratar dignamente uma pessoa, que se reconhece como mulher e quer ser chamada de Maria, chamando-a de João? Evidentemente que não”, defendeu.

Daniela ressaltou que a lei de registros publicos – Lei 6.015, de 1973 – definiu que o nome civil poderia ser mudado em algumas situações, como a exposição ao ridículo. “Eu fui registrada com um nome que me expõe ao ridículo. Eu vivo como mulher, me reconheço como mulher, mas o meu registro diz que eu sou o João”. O artigo 56 da lei define que a pessoa interessada em alterar o nome pode fazê-lo, “desde que não prejudique os apelidos de família”, durante o primeiro ano após atingir a maioridade.

Para a ativista, os deputados deviam se preocupar em legislar sobre saúde, educação, segurança, em vez de se mobilizarem para derrubar direitos da população LGBT. “Eu queria saber o que mais eles fazem além de agir contra os poucos direitos conquistados por nós. Parece que vai acontecer a terceira guerra mundial, porque as pessoas trans vão ter o direito de ser chamadas pelo seu nome social”, protestou.

O deputado federal Ezequiel Teixeira (SD-RJ), autor do PDC 26, de 2015, não chega a falar em guerra, mas defende que a resolução poderia provocar “caos social” nas instituições de ensino, pois permite a alteração de nome e utilização de espaços segregados a partir de uma “mera solicitação”. Ele argumenta ainda que a norma ataca o poder familiar, ao permitir que a solicitação seja feita mesmo por menor de idade, sem necessidade de consentimento dos pais.

Marco Feliciano deputado federal pelo PSC paulista também quer cassar a resolução nº 12, através do PDC 16, de 2015. E vai além, propondo sustar ainda a resolução nº 11 do conselho, que trata do nome social em Boletins de Ocorrência (B. O.), sob alegação de que tal determinação “não tem respaldo legal pelo Código Penal e Processo Penal”, com o PDC 17, de 2015. As mesmas propostas são defendidas pelo parlamentar Jair Bolsonaro (PSC-RJ).

Para a presidenta da Comissão Especial da Diversidade Sexual da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Maria Berenice Dias, os deputados estão “querendo chamar atenção”. “O que causa insegurança neste país é essa omissão perversa, preconceituosa, criminosa, do nosso Congresso Nacional em legislar, como é a sua função, para a proteção de um segmento da população, como é o caso de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transsexuais, Travestis e Interssexuais (LGBTI)”, afirmou.

Segundo Maria Berenice, não há nenhuma ilegalidade na resolução. “O conselho de combate à discriminação tem poder para fazer esse tipo de recomendação, assim como os demais conselhos, em relação ao negro, às mulheres”, explicou.

A presidenta considera “meio ridícula” a alegação de que alguém possa se aproveitar da norma para adentrar espaços destinados ao gênero oposto. “Acreditar que um homem vá para o colégio, todos os dias, vestido de mulher, andando como mulher, só para poder acessar o banheiro feminino não me parece razoável. Ao mesmo tempo, se uma mulher trans for obrigada a usar o banheiro masculino, sendo ela uma mulher, ela realmente corre o risco de sofrer uma agressão”, defendeu.

Para ela, os projetos não devem prosperar, pois o judiciário vem agindo no sentido de reconhecer o direito de travestis e transsexuais alterarem o nome, inclusive, no registro civil. “E, no Rio Grande do Sul, já existe legislação que determina a todos os órgãos públicos a utilização do nome social”, completou Maria Berenice.

O Decreto 48.118, de 17 de maio de 2011, entrou em vigor em 17 de maio de 2012 e permite a mudança do nome no Registro Geral (RG). No entanto, o documento só vale dentro do estado. Para obter a mudança no RG nacionalmente é preciso ingressar com uma ação judicial.

Para a ativista Daniela, o Brasil está extremamente defasado em direitos LGBT. “Nome social é diferente de nome no registro civil. Para grande parte das pessoas trans que desejam a alteração de seu nome, o nome social é um tipo de cidadania gambiarra. É a cidadania precária. O direito de fato seria possibilitar que as pessoas trans alterassem o seu nome civil”, defendeu. Ela destacou que, na Argentina, a lei de identidade de gênero reconhece o direito de mudança de nome no documento nacional de identificação a qualquer pessoa transsexual ou travesti. Não é preciso recorrer ao judiciário.

Publicado por Rodrigo Gomes


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40 Comentários

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Cada coisa para os evangélicos se preocuparem...(deixem os gays em paz!!!) sou evangélica. continuar lendo

Eu também sou cristã e não consigo entender em que parte a mensagem que Cristo nos deixou diz para perseguirmos qualquer pessoa que seja. Muito pelo contrário, nos disse para amar e respeitar! O tempo que é gasto nessas picuinhas e perseguições deveria ser investido em propostas para dignificar a vida da população, melhorias na saúde, na educação, etc... Uma pena que ainda tenhamos tantos fariseus no meio de nós até os dias de hoje. Importante lembrarmos que foram esses que crucificaram Jesus, e não os considerados pecadores. continuar lendo

Verdade Louise! parabéns pelo comentário, disse tudo. continuar lendo

Parabéns pela sua posição.

Deus vê a sua atitude e te julgará pelo que fizestes e não pelo que você tenta mudar nos outros ou costumes.

Jesus sempre pregou retidão de conduta e alertou que nos finais dos tempos muitas coisas aconteceriam, então o que vale é a sua conduta como cristã.

Marcos Feliciano e Bolsonaro nem "crentes" são, quem dirá evangélicos. continuar lendo

Joel Carvalho

Se algum cara mal intencionado quiser atacar uma menina no banheiro ele não precisa fingir que é afeminado, já que não tem porteiro controlando entradas de banheiros, quem é hétero não consegue fingir ser gay, isso é puro novelismo. continuar lendo

Louisse, você está equivocada,o que se quer é impor uma lei goela a baixo na população, não é o caso de deixar de respeitar o próximo, o que se quer é criar o caos social mesmo!!!! onde se viu um adolescente poder alterar seu nome e ter acesso ao banheiro do outro sexo, o que os deputados estão querendo não é nenhum absurdo não, o gays querem criar uma legislação paralela. continuar lendo

Eu queria saber em quê o nome social de um LGBT atrapalha no bom funcionamento do culto do Domingo? continuar lendo

hahahhahh!!!!!!!!!!! continuar lendo

Vai que alguém troca o nome do pastor ! continuar lendo

se os mesmo, fossem dar conta o que os mosquitos da dengue e caramujos estão fazendo com os crentes, e o brtasilo, dariam atenção em algo qual deveriam darem atenção esta la desde 2006 enquanto o povo estão morrendo,
PDF]A2ABD9D753 - Câmara dos Deputados

www.câmara.gov.br/sileg/integras/404587.pdf

Para dar ciência à Câmara Federal, solicitando sua transcrição nos Anais da ... dedetizador José de Pontes, morador da região de Registro, no Vale do Ribeira.
Visitou esta página várias vezes. continuar lendo

De fato vivemos em um pais sem grandes problemas , pois nossos políticos estão mais preocupados com suas ideologias religiosas do que qualquer outra coisa que de fato seja necessária para sociedade !

Recentemente observei uma historia de uma moça de 33 anos, viciada em drogas licitas e ilícitas, com 10 filhos, onde a ultima criança foi direcionada para adoção , enquanto os demais estão em abrigos, alguns passaram pelo sistema socioeducativo (Prisão junevil), ai fico em dúvida : não seria este um caso típico de negligência política? continuar lendo

Esse tipo de proposta legislativa chega a beirar o ridículo. Como citou a Daniela não faltam matérias relevantes para serem apreciadas pelos legisladores em outras searas. continuar lendo