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24 de Abril de 2024

Discriminação de impostos na nota fiscal pode nem sair do papel

Brecha na lei permite que comerciantes informem peso dos tributos em cartazes no lugar do cupom fiscal

há 10 anos

Publicado por Nice de Paula e Daiane Costa

Discriminao de impostos na nota fiscal pode nem sair do papel

RIO - A lei que determina a discriminação dos impostos na nota fiscal entra efetivamente em vigor daqui a dois meses, mas há risco de o consumidor não conseguir ver o peso dos impostos na nota em cada produto. O parágrafo 2º do primeiro artigo da Lei da Transparência diz que a informação “poderá constar de painel afixado em local visível do estabelecimento, ou por qualquer outro meio eletrônico ou impresso” e está sendo considerado como alternativa para evitar mudanças na nota fiscal.

— A lei permite que a informação seja feita por meio de cartazes. Ainda estamos discutindo como isso será feito, mas cada supermercado poderá adotar a forma que achar melhor — diz Aílton Fornari, presidente da Associação de Supermercados do Estado do Rio de Janeiro (Asserj).

Discriminao de impostos na nota fiscal pode nem sair do papel

Para o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), a informação somente em cartazes prejudica o consumidor. O Idec defende que a possibilidade seja eliminada na regulamentação da lei, prevista para os próximos dias.

A lei entrou em vigor em junho do ano passado, mas foi dado prazo de um ano para que as empresas pudessem se adequar. Somente daqui a dois meses, poderá ser aplicada multa de até R$ 7 milhões para empresas que não divulgarem os valores dos impostos embutidos nos preços, passados oito anos do início da campanha que reuniu 1,5 milhão assinaturas para criar a Lei da Transparência.

Consumidor desconhece

Para a maior parte dos consumidores, a Lei 12.741/2012 permanece desconhecida. Induzidos pelo GLOBO a verificar o valor pago em tributos na nota de compra feita recentemente em loja que já aderiu à nova regra, a reação da maioria foi de espanto. Eles sequer haviam percebido a existência da nova informação. Foi o caso do vendedor Sandro Luiz da Cunha. Ele quase não acreditou que numa Coca-Cola que custou 5,99, R$ 1,91 era imposto.

— O problema maior é que não há o que fazer. Vamos reclamar a quem?

Entre os entrevistados, os tributos registrados nas notas variavam entre um quarto e um terço do valor total das compras. A administradora Natália Lira, acredita que, a partir do momento que as pessoas se derem conta que a informação consta na nota, haverá um debate natural sobre os altos encargos, o que pode levar a uma mudança de comportamento:

— Acho que a tendência é os consumidores começarem a boicotar produtos com maior carga tributária. Principalmente os mais caros, que devem ter uma parcela ainda mais significativa em impostos — prevê.

O presidente-executivo do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT), João Elói Olenike, espera que a informação ajude a pessoas a cobrarem do governo o melhor uso do dinheiro.

— Antes, havia uma tributação silenciosa, o consumidor não sabia quanto imposto estava pagando. Hoje, as pessoas nem olham a nota fiscal e só guardam quando ela é a garantia do produto. Quando essa informação se tornar uma prática, as pessoas vão começar a falar umas para as outras quanto é o imposto e perguntar para onde está indo esse dinheiro — diz.

Para Olenike, o uso dos cartazes para informar valor dos impostos é uma opção dos lojistas, mas não elimina a obrigação de discriminar os impostos na nota fiscal.

— As duas formas são boas, mas está havendo um erro de interpretação da lei. O texto dá a opção de informar por cartazes, mas isso não dispensa a discriminação na nota — diz.

Já a Associação Comercial de São Paulo, responsável pela campanha das assinaturas que deu origem à lei, considera as duas formas de informação válidas.

—Essa possibilidade está prevista na legislação e, para produtos que tenham a mesma tributação, não vejo problema. Em estabelecimentos que vendem poucos itens, como postos de gasolina, por exemplo, o cartaz pode ser mais eficaz do que a nota, porque o impacto visual é maior — Marcel Solimeo, economista-chefe da ACSP.

Ele brinca com a cerveja, que teve o imposto elevado:

— A nota fiscal da cerveja, por exemplo, a pessoa nem olha muito, senão perde até a vontade de beber — brinca.

Para a analista de segurança Marita Campos, a alta carga tributária é injustificável:

— Se este dinheiro fosse destinado à maior qualidade e confiança nos produtos, tudo bem. Mas pagamos altas taxas para ter de voltar no outro dia à loja trocar um produto novo que já veio com defeito — reclama, sem saber que os impostos não são destinados à fabricação do produto.

10% das empresas baixaram programa

A nutricionista Lívia Gonçalves Pires Sollberg compara o Brasil com os países europeus e o americano e acha que estamos atrasados.

— Nos EUA, o preço exposto no produto está isento de encargos. É no caixa, na hora de fazer o pagamento, que são computados os impostos. Dessa forma, sempre sabemos o quanto estamos pagando em taxas — reclama.

Para o presidente do Clube de Diretores Lojistas do Rio, Aldo Carlos de Moura Gonçalves, a comparação entre Brasil e Estados Unidos não é boa, porque os americanos têm um imposto unificado e isso facilita a discriminação na nota fiscal.

— O sistema tributário brasileiro é muito complexo. São vários impostos. O ICMS varia de estado a estado, pode ser cobrado na origem ou destino. Estou pessimista com essa lei, acho que vai onerar o empresário e não vai ser muito útil para o consumidor — diz Gonçalves.

Segundo ele, o uso dos cartazes é uma alternativa mais simples, porém, inadequada para empresas com um rol de mercadorias muito amplo.

— Imagine uma loja de departamento que vende 10 mil itens diferentes. Sou a favor da transparência, da informação ao consumidor, mas acho que a lei não seja a melhor alternativa.

O IBPT pôs à disposição gratuitamente em seu site software com o valor aproximado do imposto de mais de 100 mil itens que já foi baixado por cerca de 10% das empresas do país. Foram 1,5 milhão de downloads, a maioria em São Paulo (31%), Rio de Janeiro (10%) e Minas Gerais (8%).

Entenda a nova lei

Campanha: Em 2006, o movimento de “De Olho no Imposto”, da Associação Comercial de São Paulo, apoiado por diversas entidades, reuniu mais de 1,5 milhão de assinaturas pedindo que o valor dos impostos fosse informado nas nota fiscais

Lei sancionada: Em dezembro de 2012, a presidente Dilma Rousseff sancionou a Lei 12.741/2012 que prevê a informação do valor aproximado do ICMS, IPI, ISS, PIS/Cofins, IOF e Cide. A lei entrou em vigor em 10 de junho de 2013, mas a punição para as empresas que descumprirem a regra foi adiada por mais um ano

Programa: O IBPT calculou o valor dos impostos cobrado em cerca de 10O mil diferentes produtos e serviços e põe à disposição essa informação gratuitamente para as empresas

Discriminao de impostos na nota fiscal pode nem sair do papel


Fonte:http://oglobo.globo.com/economia/defesa-do-consumidor/discriminacao-de-impostos-na-nota-fiscal-pode-nem-sair-do-papel-12061699

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Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/noticias/discriminacao-de-impostos-na-nota-fiscal-pode-nem-sair-do-papel/114873341

9 Comentários

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Há que descomplicar o sistema tributário brasileiro.
Eu entendo que é totalmente correto o consumidor ter o poder de saber o valor que um produto tem de impostos anexados. continuar lendo

Acho interessante o empresário reclamar da lei e não do sistema tributário. Se a lei nova está incomodando o empresariado por causa da complexidade do sistema, não seria a chance mais oportuna de questionar o próprio sistema?!

A 'reforma tributária', a meu ver, deve ser antecedida de uma demolição completa, uma reestruturação de todo o sistema e, após o recolhimento, a Fazenda Nacional efetue seus repasses. A complexidade do sistema facilita fraudes e ingerência. continuar lendo

Estão com vergonha do que? continuar lendo

Em outra matéria publicada no Jusbrasil:
http://crc-sc.jusbrasil.com.br/noticias/112334793/a-maior-carga-tributária-do-mundo-em-livro-recorde
"A maior carga tributária do mundo em livro recorde
Publicado por Conselho Regional de Contabilidade de Santa Catarina - 2 meses atrás

O Brasil é o país com maior carga tributária do mundo, segundo dados das Nações Unidas deste ano. Mas o que a ONU não imagina é que toda essa carga de IPTU, ICMS, ISS e por aí fora ocupa quase 50 mil páginas em um livro de dois metros de altura por 1,40 m de largura. E que foi preciso R$ 1 milhão para fazê-lo, uma vez que nem as gráficas brasileiras davam conta de tanto imposto reunido num livro só. O autor, inclusive, precisou fazer um parque gráfico só para imprimir toda a legislação federal e de 5.565 municípios sobre os quase 106 impostos. Vinicios Leôncio, advogado tributarista, levou 22 anos para concluir a obra. Ele fala sobre o" custo da incerteza "que prejudica empresários e investidores, por tanto peso tributário."

Nada mais a declarar. continuar lendo